segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

11 - Capítulo V - O que realmente aconteceu quando "A Casa Caiu..."

__Caralho! Não perguntei nada...
__Eu sei, mas eu preciso explicar.
__A vida é sua. Não tem que me contar nada. Se você curtiu ou não bancar a mulherzinha, é problema seu.
__Cala a boca e escuta! Eu sei que é machista, mas pode ouvir, porra!
__Nós dois somos... Você  é que mudou depois que passou aquele tempo na Itália.
__Cara, eu aprendi a respeitar a opção sexual de cada um. Só isso.
__Não, meu caro, você experimentou da fruta e gostou. Por que não assume? Mas fica frio, eu não tenho nada a ver com isso. Nossa amizade não muda por isso, é a mesma.
__Talvez eu tenha criado coragem para assumir um lado meu que estava escondido. Sei que depois disso talvez você nem queira mais ser meu amigo. Mas não importa. Não posso mais viver com isso entalado na garganta.Estou tão confuso quanto você...

_Eu? Confuso? Tá maluco? O confuso aqui é você!  Eu estou surpreso...Aliás, meio surpreso. Você anda dando muita bandeira. Acho que voltou diferente...
__Diferente? Não. Acho que estou aprendendo a ser eu mesmo. Sem medo do que vão pensar.
__Está assumindo que é gay?
__O que é ser gay? É sentir atração por homens, é sentir prazer com o mesmo sexo, sim, então sou.
__Mas...E as chinocas? Você nunca negou fogo...
 O que você prefere? Homem ou mulher? Batista ficou mudo.
__Anda, responde. O que prefere? Pensar em qual dos dois te deixa com tesão, um homem ou uma mulher?
__O problema é esse cara. Eu sinto atração por homens. Transar com mulher é bom, mas maçante. Até consigo, mas...
__Mas?
__Ultimamente para poder gozar eu imagino que seja com um homem. Dessa forma sempre acabo conseguindo.
__Eu não quero saber com que homem se imagina!
__Tem tanto medo assim de que seja com você?
__Puta que o pariu! Caralho! Não me obrigue a cortar relações contigo brother!
__Jogaria nossa amizade fora caso eu...
__Cala a boca. Não termine o que ia dizer. Cansei dessa conversa. Você só pode estar doente. Vou relevar!
__Eu sabia que reagiria mal. Por isso precisava te falar.
__Vou ligar para duas chinocas e vamos fazer uma farrinha. Você está doente. Precisa de um tratamento de choque.
__Acha que me vendo transar com uma mulher vai poder dormir tranquilo?
__Assunto encerrado. Vou ligar. Faz um favor para mim? Vá retirar a grana do caixa eletrônico. Dessa vez você paga.
__Tudo bem. Mas não desconte sua raiva nas garotas. Combinado?
__Do que está falando?
__Nas últimas transadas você tem sido violento. A moça sai meia baqueada, pensa que não percebo? Eu só queria saber o porquê. Você sempre tratou muito bem as mulheres.
__Só falta dizer que estou virando gay também. Marcos gargalhou.
__Não. Acho que ser amigo de um gay te incomoda. Só isso.

Naquela noite transaram até se fartar. As chinocas entendiam da coisa como ninguém. Em alguns momentos Marcos parava para apreciar o amigo. Parecia querer medir sua heterosexualidade ali naquele quarto. Era a primeira vez que transavam a quatro e talvez tenha feito assim para analisar melhor sua performance.

Estava  amanhecendo quando ouviram as sirenes.
__Sujou! Dêem o fora daqui. Empurrou as duas garotas para fora do quarto.
__E a nossa grana?
__Toma... Marcos jogou um masso de dinheiro na mesa.
__Esses pilas? Não foi o combinado.
__Pegue esse. Batista deu um pacote generoso à mulher que saiu sorridente.
__Andem. E não dêem na vista, Vão pelo beco. Marcos estava preocupado com o barulho não muito longe dali.
__Caralho!  MC é na sua casa! Eu avisei...
__Boca maldita! Vamos cair fora daqui.
__E sua mãe?
__Ora, não estão atrás dela estão? Vamos logo, temos que ir até o esconderijo, lá estaremos seguros. Tinha uma casa abandonada onde se encontravam para planejar os assaltos e também onde escondiam a mercadoria roubada. O acesso era pelo túnel do esgoto, um lugar de difícil acesso.
__Caramba! Sujou! A casa estava cercada de viaturas. Batista estava apavorado.
__Sai daqui. Vai pelo canal.
__Tá maluco? Você vai fazer o que?
__Se eles estão lá em casa é porque me procuram. Já você, está limpo ainda. Vamos nos separar.
__Negativo. Vamos ficar juntos. Foda-se se formos presos.
__Pensa caralho! Se você for preso, quem vai nos tirar de lá? Você tem que ficar livre para convencer seus pais a nos ajudar.
__Merda! Lá vem você de novo...
__Vai me deixar na mão?
__Não. Sabe que não. Mas o resto da turma...
__Eu sei que sempre foi contra os assaltos. Tampouco quero que ajude o Almir, ele já se ferrou com o tráfico. Mas Joca e Sandoval você pode ajudar. São gente boa!
__Vou pensar. 
__Cai fora daqui...
__Vai se cuidar?
__Fora! Parece minha mãe, porra!
__Preciso dizer uma coisa...
__Vá se ferrar mano. Agora não é hora.
__É agora ou nunca...
__Eu já sei...
__Sabe?
__Vai dizer que gosta de mim e taus, eu já percebi. Você tá confuso. Isso passa, é uma doença. Sou seu amigo. Eu te ajudo a sair dessa.
__Contratando chinocas?
__Também...
__Mas então, não bata mais nelas quando sentir ciumes de me ver trepando...
__Seu porco, não é nada disso...
__É sim, não tem mais como negar. Eu percebi. Melhor pensar sobre isso quando estiver sozinho.
__Seu merda! Eu gosto de ti como um irmão. Basta!
__Tudo bem. Vou indo. 
__Vai sim. Corre!
__Eu entro em contato.
__Vai!!! 

Batista correu pelo canal sem olhar para tras. Sabia que podia ser pego a qualquer momento, o lugar estava cheio de policiais. Soube depois por Almir que Marcos havia se entregado. 
A polícia recebeu uma denuncia anônima e estourou o esconderijo. Lá estavam Sandoval e Joca que foram pegos em flagrante. Em seguida Marcos se entregou e os objetos que estavam na casa foram apreendidos. 
O roubo a uma loja de antiguidades tinha sido a causa. Parece que foram filmados por uma câmara de segurança, que passara desapercebida por Almir e, por isso,  agora era foragido da polícia. 
Batista estava livre, não foi visto pela segurança pelo fato de ficar sempre na rua, em algum ponto estratégico esperando os comparsas. Isso era um bom sinal, ia poder ajudar os amigos.
__Preciso de ajuda. Os homens estão na minha cola.
__Quem mandou trabalhar por conta própria? Vai se ferrar! Alemão estava muito irritado.
__Esse negócio foi antes de eu começar a trabalhar para você chefia. Não deu para pular fora.
__Ganância! Pura ganância! Agora se vire. Ah! E se for pego, bico calado.
__Não vai me ajudar?
__Se for preso eu mexo meus pauzinhos. Agora fora daqui antes que eu mesmo te entregue.
Almir sabia que ele não era de brincadeira. Melhor mesmo sair de circulação por um tempo, até tudo se acalmar.



Só as mães sabem da dor de ver um filho preso...


Tinha dois corrimões de ferro para apoio das mãos e uma base de cada lado para apoio dos pés, de  forma que ficasse de  pernas abertas e no chão um espelho. Era obrigada a se abaixar várias vezes para que a policial pudesse verificar na imagem refletida, se não trazia alguma arma ou objeto escondido no canal da vagina ou do ânus.
__Pronto. Agora vista-se e venha ver seu filho.
Ela entrou num longo corredor e a policial a conduziu a uma salinha.
__Tem dez minutos. Não mais
__Meu filho...
__Mãe. Ainda bem que veio. Marcos abraçou a mãe com carinho. Os filhos nunca crescem, na hora do apuro sempre procuram por um colo de mãe.
__Estão te tratando direito?
__Por enquanto. Preciso sair daqui.
__O que você fez? Dona Maria abraçou o rapaz com os olhos cheio de lágrimas.
__Nada. Eu não fiz nada. É um engano.
__Eles estão te acusando de roubo. Dizem que você é um assaltante.
__Não acredite mãe. Por favor. A senhora é a única pessoa que posso confiar.
__Por que? Me conte por que estão te acusando.
__Almir...Você sabe. Ele faz parte da turma da pesada. Do Alemão.
__Eu sei...
__Então. Estão achando que eu e o resto da turma estamos nisso também.
__Você está metido com o tráfico? Diga a verdade...
__Juro que não! Acredite em mim! Eu jamais me meteria com drogas.
__Mas acharam um pacote escondido lá em casa.
__Viu? Eu não disse? Armaram para mim. Plantaram essa coisa lá. Eu jamais faria isso.
__Vou tentar arranjar um defensor público.
__Não. Que droga! Público? Esses caras não fazem nada por ninguém. Se a gente quer ver acontecer, tem que pagar. Essa corja só trabalha ganhando muita grana.
__Mas nós somos pobres, sabe disso. Dona Maria estava aos  prantos novamente.
__Fica tranquila mãe. O Batista vai falar com os pais. Não esquenta mais com isso.
__Como não esquentar? Dizem que aqui costumam tratar mal as pessoas. Como vou dormir agora sabendo que está aqui?
__Eu vou me cuidar mãe.Fica tranquila. Me faz um favor? 
__Diga. 
__Diga ao Batista para vir me ver.
__Batista não foi preso?
__Não. É muito importante que venha me ver.
__Eles deixam entrar qualquer um? Eu ouvi dizer que é só família que pode vir. Ah, sem contar o advogado. 
__Ele se vira. Diga isso para ele, ele dá um jeito.Preciso falar com ele urgente. Diga que é importante.
__Eu digo. Você vai ficar bem?
__Vou tentar. Não é nenhum hotel cinco estrelas, mas vou saber me virar.
__Eu vou te trazer comida, frutas e outras coisinhas que sei que gosta. 
__Traga cigarros. Ao ouvir isso a mulher fechou a cara. -Não fique com essa cara! Não é para mim. É para negociar aqui dentro. Mais aliviada respondeu:
__Eu vou comprar alguns pacotes.
__Mãe...Me perdoa.
__Não diga isso. 
__Por favor mãe. Me perdoa. Eu não queria que passasse por isso.
__Fica tranquilo. Só me prometa ser bonzinho aqui. Por favor, não retruque. Não responda. Não quero que apanhe. Acho que eu morreria se alguém te machucasse.
__Fica fria mãe. Agora vai. Ah! Não quero que os manos venham aqui, de jeito nenhum.
__Eu acho melhor eles não virem aqui mesmo...
__Diga a eles. Se vierem eu não apareço. Não sou obrigado a receber visitas. Não quero que me vejam aqui.
__Pode deixar...Eu digo.



Quem pode medir a dor de uma mãe ao deixar seu filho preso nas mãos de uma polícia sem coração e de monte de bandidos igualmente duros? 
Era assim que Dona Maria via a situação. Saiu dali e foi direto ao pronto socorro para ser medicada, sabia que sua pressão estava nas alturas. "  12 x 20, disse a enfermeira."
Passou a noite em observação e no dia seguinte voltou para casa. 




Próximo Capítulo - Dia 28 de fevereiro de 2011
continuação do Capítulo V - Aprendendo a viver na prisão!

2 comentários:

  1. Apesar de não comentar com frequência, tenho acompanhado com interesse e atenção essa novela que pode perfeitamente estar estancada em muitos lares de grande cidades deste país. Tem uma força narrativa impressionante e explora de maneira genial o comportamento psicossocial dos personagens.

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  2. Que bom que está acompanhando! Realmente Celso, eu decidi fazer essa novela a partir de casos verídicos. É meio triste quando deparamos com casos assim no nosso cotidiano, mas é isso mesmo, a realidade é dura. Eu fiz uma pesquisa durante dois anos e vi de perto muitas coisas que não via normalmente nos seios familiares.
    O resultado não é tão agradável, mas sempre se pode usar um pouco de fantasia...
    Espero que curta o desenrolar.

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