Dona Maria do Carmo Soares estava branca feito cera. Quando entrou na sala de revista do Presídio de Porto Alegre, de longe poderia imaginar que passaria por tamanho constrangimento.
__Vamos lá Dona Maria! Não tenho o dia todo! Abre logo as pernas para que eu possa examinar ou cai fora!
__Desculpe moça. É preciso mesmo? Eu sou uma senhora de respeito, uma pessoa de bem...
__De respeito ou não, essa é uma regra para poder entrar. Se continuar me enrolando chamo o guarda e ele a coloca para fora. Quer ou não ver seu filho? Não educa direito, agora agüente. Resmungou a moça com sarcasmo.
Com certeza não tinha mãe, devia ser filha de chocadeira. Pensou Dona Maria com lágrimas nos olhos.
Tinha dois corrimões de ferro para apoio das mãos e uma base de cada lado para apoio dos pés, de forma que ficasse de pernas abertas e no chão um espelho. Era obrigada a se abaixar várias vezes para que a policial pudesse verificar na imagem refletida, se não trazia alguma arma ou objeto escondido no canal da vagina ou do ânus.
Com seus cinqüenta anos de vida, Dona Maria jamais se imaginou passando por tal humilhação, justo ela, uma pessoa religiosa, temente a Deus, que criara aos tropeços e com muita dificuldade, três filhos homens.
Dois trabalhavam e estudavam, Miguel e Jovilson, de 15 e 16 anos, respectivamente e nunca tinham dado o menor trabalho para a velha senhora.
O mais velho, Marcos, com seus 18 anos de idade, seguira por um caminho conturbado e acabara preso por assalto a mão armada. Para ela tudo se resumia nas más companhias, aliás, como a maioria das mães, culpando os amigos pelas atitudes delinqüentes dos jovens.
Atribuía a culpa a seus amigos mais chegados, cinco ao todo, que constantemente freqüentavam sua casa: Joca, Sandoval, Almir e Batista, junto a Marcos eram conhecidos por “Sobreviventes de um Grenal”, por serem adversários no futebol. Os três primeiros Colorados ferrenhos e os demais Gremistas igualmente extremados.
Marcos, filho de Dona Maria.
Joca, filho de um casal humilde, João, Pedreiro e Ana, auxiliar de serviços numa escola municipal.
Sandoval era filho de professora do primário, Luzia, e seu pai, Jair, era dono de supermercado. Eram separados, mas continuavam amigos, ligados pelo filho, que era único e muito mimado.
Almir era filho de mãe solteira, Kátia, criado pela avó, Catarina, ele sempre trabalhou e estudou. Era o mais esforçado.
Batista era filho de um casal de advogados e o que tinha uma vida melhor. Tinha carro e por isso, era quem levava todos para a balada.
Eram considerados pessoas da família por Dona Maria. Muitas vezes abasteciam a geladeira, percebendo a escassez de alimentos, quando ela ficava sem trabalho. Agora analisando os fatos ela se perguntava se não seria dinheiro de tráfico de drogas, apesar de nunca ter visto ou ouvido nada que denunciasse esse fato. A casa era velha e cheia de goteiras, os móveis surrados... Não! Se fosse dinheiro ilícito Marcos provavelmente teria comprado tudo novo, afinal quem não gosta de conforto? Esse pensamento acalmou a mulher.
Bom, todos acabaram mal, de uma forma ou de outra. Seguiram juntos, cada um para um lado e no final restava apenas a contabilidade dos erros cometidos . Como toda mãe que se preze, ela se culpava pelo fim trágico do filho, como se em algum momento tivesse falhado.
Fosse culpada ou não, o fato é que Marcos estava preso e ela pagava, mesmo indiretamente, por todas as faltas do rapaz. Dizem que as mães são as que mais sofrem com os erros dos filhos. Descobriu que era a mais pura verdade.
Nos capítulos a seguir vou contar a história de vida de cada um deles, os “Sobreviventes de um Grenal”, Marcos, Joca, Sandoval, Almir e Batista.
Cinco Réus condenados no Tribunal da Vida por Homicídio Culposo. Vítimas: Suas mães. Sentença: O Resto de Suas Vidas.
Adorei a introdução! Vou acompanhar a trama, que parece ter ingredientes interessantíssimos a serem explorados!
ResponderExcluirBeijo, amiga!
FELIZ NATAL
ResponderExcluirCOROA DE ESPINHOS
Cravaram-lhe uma coroa
Cravejada de espinhos,
Manchada com o seu sangue
Sob aplausos e risos de algozes.
Ele trouxe mensagens de esperança
Para um mundo povoado de hienas.
Os ferrolhos abriram o templo
Onde a hipocrisia asfixiava fariseus.
A caminho do Calvário
Ele se pôs a seguir.
A cada passo, um tombo,
Em cada tombo, uma mensagem,
Em cada chibatada, uma oferta de perdão.
Sua vinda iluminou mentes obtusas
Que antes se negavam a ouvi-lo,
Que mais tarde se negaram a escutá-lo.
Na cruz ele viu o mundo
E ofereceu-se em holocausto.
Seu último suspiro a humanidade
Ainda ousa não ouvir:
“Amai aos outros como a ti mesmo”
* (Agamenon Troyan)
machadocultural@gmail.com
Fanzine Episódio Cultural, lindo teu poema. Fico feliz de vê-lo postado aqui. Valeu a leitura do capítulo.
ResponderExcluirCelso, eu procurei criar situações bem atuais para esse enredo. De alguma forma espero que ajude alguém, eu mesma tive que aprender muito antes de criar a trama. Obrigada por acompanhar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigado pelo convite. Vou acompanhar a novela com muito gosto.
ResponderExcluirObrigada! Espero que goste!
ResponderExcluirmuito ótimo. já conhecia seu trabalho. lembra da comunidade portal do conhecimento?
ResponderExcluirMais uma parte lida e apreciada.
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