segunda-feira, 16 de maio de 2011

23 - Capítulo XI - A Hora é Agora!

Engraçado como as coisas ruins acontecem sempre na hora errada, se é que tem hora certa para coisas ruins acontecerem. O traficante Alemão estava a procura de Marcos e parecia obstinado, tanto que não se importava mais em disfarçar. Ligava dia e noite a sua procura.
__O que ele pode querer contigo? Batista estava muito preocupado.
__Ele está numa pior. A polícia invadiu o morro e ele teve que fugir às pressas. Sua conta bancária foi confiscada, perdeu a casa, carros e ficou desestabilizado. Almir morreu e não disse onde escondeu a grana que roubou. Provavelmente acha que está comigo.
__Então voce corre perigo?
__Não creio. Ele não tem mais esse poder todo. Se bobiar vai preso.
__Mas se está desesperado é capaz de qualquer coisa.
__Não pode dar na vista, está sendo procurado.
__Vai atendê-lo?
__Ainda não sei. Tenho que pensar. Talvez seja melhor ver o que ele quer.

Batista estava tomando as rédeas de sua vida, assumindo sua opção sexual a contragosto do pai e de toda uma sociedade machista, mas estava feliz. Pela primeira vez sentia-se dono de seu próprio nariz e sabia exatamente o que queria. As dúvidas ficavam para trás. Queria ser um advogado bem sucedido e seguir o exemplo dos pais, queria ter sua própria casa, sua vida, queria que Marcos assumisse seus sentimentos e isso, que considerava o mais difícil, talvez até impossível, até isso já se concretizava. Marcos não escondia mais seus sentimentos pelo rapaz e parecia cada vez menos se importar com a opinião das pessoas. A última demonstração tinha sido bizarra e muito satisfatória para Batista, que não tinha mais dúvidas do amor que Marcos lhe conferia.

__Cara! Ela sempre foi apaixonada por mim. Que quer que eu diga?
__Ora! Quando uma pessoa não interessa para a gente o normal é cortar as esperanças. Você não! Você a chamou para almoçar...
__Seu cretino! Ela trabalha com a gente. Todos almoçamos fora. Se ela não tinha almoçado ainda por que não almoçarmos juntos? Marcos estava com ciumes de Anita, pois percebeu que a moça era apaixonada pelo amigo.
__Você está tentando colocar panos quentes...
__E você está com ciumes!
 O silêncio que veio depois da afirmação de Batista foi como se uma balde de agua fria tivesse sido jogado entre os dois. Nisso Anita entrou na sala e, percebendo o clima tenso, deu meia volta puxando a porta com força.
__Ela tem entrada franca aqui? Não bate antes de entrar?
__Marcos. Vamos ter que conversar muito hoje. Mas em casa ok? Fazia um mês que estavam no hotel, ainda a procura de apartamento,  que estava muito difícil de encontrar. Batista até desconfiava que tinha dedo do seu pai nisso. Há um mês tinham tido uma conversa bem conturbada e desde esse dia nunca mais se falaram.





__Não posso acreditar.
__Pode acreditar, é verdade.
__O que é verdade? Que meu filho se transformou num fresco? Um viadinho?
__Não. Eu continuo sendo o mesmo de sempre, só que mais feliz.
__Não me faça perder a cabeça, seu moleque de uma figa!
__Pai, não perecisa ser assim. Basta que me respeite.
__Nunca! Se pensa que vou aceitar que saia por aí...
__Não diga! Pai, por favor. O senhor é uma pessoa esclarecida, estudada, não pode ter essa cabeça pequena.
__Saia daqui. Fora da minha casa!
__Eu já separei tudo que é meu. Sairei amanhã cedo.
__Não. Saia agora. E se sobrar um fio de cabelo seu,  eu mesmo jogo pela janela!
__Pai, por favor...
__Nunca mais me chame assim. Meu filho está morto.


__Cara!  Que coisa! Eu sinto muito...Marcos não sabia o que dizer para consolar o amigo. "Seu pai é muito cabeça dura!"
__Eu estou mal com isso. Mas já esperava. No fundo esse era meu maior medo.
__Tem que prosseguir. Não vai amolecer agora. Estou contigo!
__Eu sei. Não sabe como isso faz a diferença!
__Olha, vou dizer uma coisa, eu posso estar com milhões de dúvidas a respeito de tudo. Mas de uma coisa tenho certeza: O que acontecer de agora em diante será da conta de nos dois, estamos juntos nessa. Posso não conseguir assumir o que e sinto ainda, morro de vergonha,  mas prometo que assim que puder faço uma terapia.
Batista abraçou o amigo e o tranquilizou.
__Não se preocupe. Eu sei que gosta de mim, isso basta.
__Não cara! Eu sei que não basta. Mas vou dar um jeito. Pode esperar. Não esconda mais que é gay, o pior já passou.
__Gay? Essa palavra é tão forte...Por que preciso gritar isso aos quatro ventos?  Minha opção sexual não é só da minha conta?
__Eu quiz dizer para não esconder mais da sua familia, das pessoas que realmente importam.O resto que se fodam!
__E se começarem a falar da gente? Estamos morando juntos agora.
__Deixa falarem. Quem sabe isso não me ajuda a assumir você de vez?  Na teoria parece tão fácil!
__E se meu pai me demitir?
__A gente se vira. Confie em mim, alguma vez te deixei na mão?
Batista sabia que podia contar com ele. Sempre foi assim, seu porto seguro.
__Vamos sair para espairecer um pouco. Que tal irmos na casa de Joca? Faz tanto tempo que não o vejo. Quero saber como está, se já superou a fase ruim...Marcos tentava animar o amigo, mas ao mesmo tempo parecia querer fugir do clima que se instaurava entre os dois, sempre que o assunto era sua sexualidade.
__Não precisa ter receio, não vou agarrar voce.
Marcos fingiu não escutar e saiu apressado.

Já estavam na rua quando avistaram na esquina um homem de aspecto familiar.
__Eu conheço esse cara, boa coisa não é. Batista estava nervoso com a presença daquele estranho.
__É o Jovino, lembra? O Capanga do Alemão. Acho que agora a gente se ferrou. "Fala brother".
__O chefe quer falar com vocês dois.
__Pode adiantar o assunto?
__Melhor não começarem com gracinhas. Venham comigo. Ele apontou para o carro estacionado mais a frente e Batista sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
__Alemão quer falar comigo. Deixa o Batista fora dessa.
__Não brinque comigo cara. Os dois vão entrar naquele carro antes que eu perca a paciência.
__Tudo bem. Mas temos que avisar o pessoal do escritório. Estamos no horário de serviço...
__Se der mais um pio eu acabo com os dois aqui mesmo.
__Calma. Os dois entraram no carro rapidamente. "Seja o que Deus quiser". Batista sussurrou.
__Fica frio. Eu resolvo tudo.





Próximo Capítulo - Dia 23 de maio de 2011
continuação Capítulo XI - O passado não dá folga...