Almir era filho de mãe solteira, Kátia, criado pela avó, Catarina, sempre trabalhou e estudou. Era o mais esforçado e o envolvimento em roubos era pura burrice, tinha tudo para se dar bem na vida.
Era ele que montava o esquema dos assaltos. Estudava os hábitos de cada funcionário, horários e tudo mais, a fim de que não corressem nenhum risco. Quando tudo estava perfeito, só então, dava o sinal verde para que os amigos estudassem todo o esquema.
__Ele é o cara! Só tira notas boas, o "queridinho" dos professores. Marcos sempre perturbava o sossêgo de Almir, frente a sua dedicação com os estudos.
__Deixa disso! Na hora de passar cola, bem que você gosta!
__É o mínimo que pode fazer por seu amigo ora. Sabe que não sou tão inteligente quanto meu amigo "nerd".
__Já experimentou estudar?
__Já ouviu falar em alergia intelectual? Só de tocar nos livros eu me coço. Depois, só estou aqui para agradar Dona Maria, sabe disso.
__Sabe onde vai acabar? Na cadeia ou em algum beco por aí com uma bala na cara.
__E você não? Que eu saiba estudo não livra neguinho de nada disso.
__Eu sou esperto...O estudo deixa a pessoa esperta!
__Marcos, deixa o Mi em paz! Manuela se aproximou do grupo e interferiu em favor do rapaz.
__Ai, "Mi"...Miau...Marcos zombou dela e a risada foi geral.
__Isso ainda vai dar casamento...Batista disse enquanto guardava a mochila na guarda da cadeira.
__Seus idiotas! A moça ficou vermelha.
__Vai se ferrar! Almir fez um sinal para Manuela e sairam em direção ao corredor, embaixo de um coro de gozações.
__Por que ainda é amigo desses caras?
__São gozadores, apenas...Eu conheço a turma desde que me conheço por gente. É tudo gente fina!
__Imagino se não fossem...
__Pensou na minha proposta?
__Tá maluco cara! Quer me ferrar?
__Ora, pensei que estivesse a fim...
__Não dessa forma...
__Não acredito no que estou ouvindo. Recusando uma farrinha?
__É por isso mesmo, uma farrinha. É o que represento para você...
__O que quer? Casamento? Deixa disso. Eu to a fim de ti gata. Vamos sair. Hoje em dia é normal ficar com pessoas que nos atraem...
__Sim, mas não da forma que quer...
__Bundona...
__Não precisa entender...
__Tudo bem, seja do seu jeito então.Vou na sua casa e peço sua mão. Almir deu uma risada.
__Pode brincar. Já não me interessa mais.
__Mina...Que droga é essa? Está ou não a fim de sair comigo?
__Estava..Mudei de idéia. Você é muito louco.
__Mudou nada. Passo na tua casa hoje a noite. Pode ficar tranquila, vamos no cinema. Ah, prometo que te devolvo antes da meia noite. Como a Ciderela...Saiu gargalhando.
Manuela estava apaixonada pelo rapaz. Era legal, sério, estudioso...Qualidades que a fizeram ficar de quatro por ele. Isso sem contar a beleza. Almir era moreno de olhos verdes, um raro exemplar da espécie masculina. Fazia muita menina suspirar quando passava. Mas ele gostava de bebedeiras e drogas e isso começava a atrapalhar sua vida. Ela queria algo sério. O fato do rapaz não demonstrar o mesmo a deixava profundamente triste. Algo tinha se quebrado dentro da moça. Por mais gostasse dele, alguma coisa dizia para cair fora.
__Não vá esquecer a camisinha. Essas meninas com cara de anjo como a Manu são as piores. Doidas para dar o golpe da barriga.
__Não seja idiota. Ela nem é tão experiente como você afirma.
__Como não? Já vi que está caidinho por ela. Depois não diga que não avisei.
__Não quero mais palpites. Manu é uma boa moça.
__Tudo onda...São todas iguais.
__Por que pensa tão mal das mulheres? Foi alguma que te deu um toco ou não é chegado na fruta?
__Vá se ferrar!
Marcos tinha levantado e estava visivelmente contrariado.
__Parem! Vão brigar de novo? São amigos porra!
__Ele acha que pode se meter em tudo. Porra cara! Essa mania de dar palpites até nos nossos encontros...
__ Almir, vá embora. Esfrie a cabeça. Depois se falam. Batista empurrou o rapaz para a porta.
__Mas que merda é essa? Joca assitia à briga enquanto jogava video game com Sandoval e levantou-se, contrariado. -Nos vamos acabar mal por culpa sua...
__Fica frio cara. Batista interveio, com medo da reação do amigo.
__Eu to me fodendo para o que pensa, se não está satisfeito cai fora.
__Joca está certo. Com o ramo de negócios que estamos organizando, não dá para termos brigas ou desavenças. Temos que confiar uns nos outros. Sandoval completou. Você podia controlar esse seu autoritarismo e mau humor
__Lá vem vocês de novo com essa história de "negócios"...To fora! Batista fechou a cara.
__Espera aí... Vamos acertar tudo de uma vez. Marcos falou ao amigo. Sabia que tinha intenção de cair fora do esquema.
__Sabe que não concordo com os planos de vocês. Já disse e repito: To fora disso!
__"Fora" uma merda! Participou da três assaltos e agora isso? Fora? Joca tinha medo que desse com a lingua nos dentes, afinal seus pais eram advogados. Temia que para se safar acabasse entregando os companheiros. Marcos e Batista eram muito ligados, ao contrário do resto da turma que jamais aceitara totalmente a participação do rapaz, por ser de uma família mais abastada.
__Deixa que eu resolvo isso! Marcos foi firme. Dêem o fora daqui. Nos falamos a noite lá no cafofo. Era a casa abandonada que tinham arranjado para se reunirem e planejar os roubos.
__Agora? Poxa! Bem no meio da partida? Sandoval estava no video game e não queria ir embora.
__Saia, já disse. Acabou a festa!
__Você não! Que merda! Batista ia saindo do quarto do amigo. -Fica. Precisamos conversar. Batista se sentou a beira da cama, enquanto o amigo fechava a porta do quarto.
__Vamos ao que interessa. Não pode ficar provocando os manos.
__Mas eu quero sair fora, sabe disso.
__Sim, mas isso a gente resolve entre a gente. Depois eles ficam sabendo.
__Sei lá. Acho melhor que saibam de uma vez. Tenho outros planos, sabe disso.
__Ir para o exterior. Sei sim. Ainda vai se ferrar por isso...
__Isso já está decidido.
__Tudo bem, deixa que eu falo com eles. Eu cuido de tudo.
__Juro que não entendo como você pode ser tão cabeça dura com Almir e os outros. Sempre se metendo em tudo que eles fazem.
__São uns molengas. Não fazem nada certo.
__Uma hora vão se cansar e dar um basta na sociedade.
__Aqueles idiotas? Duvido. Precisam de pulso forte, isso sim.
__Você que sabe que precisa do Almir, sem ele a coisa não anda.
__Não esquenta. No final tudo se ajeita. Marcos tinha um carinho especial pelo rapaz, era como se fossem amigos de infância. Era mais fácil de conversar com ele que com os próprios irmãos de sangue.
__Não esquenta. No final tudo se ajeita. Marcos tinha um carinho especial pelo rapaz, era como se fossem amigos de infância. Era mais fácil de conversar com ele que com os próprios irmãos de sangue.
Enquanto isso lá fora...
__Juro que um dia meto um soco bem no nariz daquele idiota!
__Você? Sandoval deu uma sonora gargalhada.
__De tanto provocar, uma hora ele acha o dele...
__Pare com isso. Ele faz isso pensando no seu bem. Do jeito dele, é claro.
__Bem? Deus me livre desse "bem"...
__Eu concordo que as vezes ele exagera, mas não faz por mal. Depois, você não colabora...
__Vai começar?
__Tudo bem, sobre a mina não dou palpite. Mas e o resto? Ainda usando aquela porcaria?
__Pode parar!
__Cara...Para com isso enquanto é tempo.
__Não fale do que você não sabe. Eu não sou viciado.Fica frio.
__Todos dizem isso até se ferrar de vez.
__Eu falo sério. Faço uns trabalhinhos aqui e ali para o Alemão e ele me deixa cheirar algum de vez em quando. Mas é só trabalho, uma graninha legal, saca?
__Tráfico? Está trabalhando para o tráfico? Então é bem pior. Agora fudeu tudo!
__Deixa de ser medroso. Não assaltamos? Qual a diferença? É tudo a mesma coisa.
__Não sei não. De qualquer forma, acho melhor contar para os outros. Isso pode ferrar a gente, de boa cara.
__Deixa de ser medroso. Tudo bem, eu prometo que conto, mas outra hora. Primeiro tem que passar a raiva que estou sentindo do MC. Cara estúpido e arrogante!
__É nosso brother...
__Meu não.E essa do Batista cair fora do negócio?
__Eu ouvi dizer que vai sair do país. Não sei quando ainda.
__Viu? Que brother nada, escondem tudo da gente.
__Eu ainda acho que devíamos jogar limpo, por as cartas na mesa. Precisamos disso ou ainda vamos nos ferrar.
Almir estava sendo usado como "mula" do tráfego de drogas no território de Alemão, um marginal que a custa de muito sangue em assaltos a camioneiros na região do porto, tinha se tornado uma espécie de dono do lugar. Seu território era sagrado, quem não aceitasse suas regras tinha que se mudar. Mas, se fosse um de seus homens, a única saída era a morte ou a cadeia. Uma vez trabalhando para ele não tinha mais volta.
Sandoval e Joca avisaram o amigo, mas parecia que Almir adorava uma encrenca e um dinheirinho fácil. Era só fazer umas entregas, ajeitar uns clientes ali, outros aqui...
Quando Marcos soube já era tarde. Não tinha mais volta para o amigo, estava encrencado.
__O que posso dizer? Melhor nos afastarmos dele. Batista interveio.
__Tá maluco? Não esqueça que agora ele é um protegido do Alemão. Nada disso. Vamos fingir que não é conosco. Apenas tomamos precauções.
__Como assim?
__Nada de favores ou assuntos relacionados a isso. Quanto menos nos metermos nisso melhor.
__Mas não tá certo...Ele é nosso amigo.
__Quanto quer apostar que ele vai tentar nos ferrar ainda? Acorda! Almir nunca concordou comigo em vários assuntos.
__Ainda acho que devíamos ajudá-lo.
__Como? Tem alguma idéia? Vai agir contra o Alemão?
Marcos estava certo. Não tinham o que fazer.
O pacote
__Eu nunca te pedi nada.
__Isso não. Eu te avisei que não daria cobertura a esse tipo de coisa.
__É só por uns dias...
__De quem é essa droga?
__Eu ganhei por serviços prestados...
__Conta outra. Se não se abrir não entro nessa.
__Tudo bem. Eu to tentando expandir os negócios. Vou ganhar muita grana. Mas ainda não tenho um local adequado para guardar o material.
__Como conseguiu isso? Com que dinheiro?
__Se não pode ajudar, tudo bem. Não precisa mais.
__Espera.
__Cara! Na hora de planejar os roubos eu presto. Na hora que preciso você me deixa na mão.
__Por quanto tempo?
__Uma semana no máximo.
__Uma semana. Depois eu jogo o pó no vaso sanitário lá de casa.
__Ficou louco? Quer morrer? Não sabe do que eles são capazes.
__Sei sim e é por isso que quero ficar de fora. Não diga a ninguém que estou te ajudando.
__Fica susse. Não falo.
Marcos achava que tinha se metido numa furada. Mas não podia se recusar a ajudar o amigo, afinal eram cúmplices e viviam brigando, o que não era bom para os negócios.
__Bela hora para crise de consciência. Sabe que pode ter assinado sua sentença de morte? Ajudar Almir é furada, sabe disso.
__Eu sei...To arrependido, mas agora é tarde. Depois, é só por uma semana.
__Sei. Vamos ver o quanto significa "uma semana" nesse caso.
Ele estava certo. A partir daquele dia, sempre surgiria um pacote novo para Marcos guardar. Almir insistia para que o amigo entrasse no esquema, embora ele se esquivasse.
Próximo Capítulo - Dia 31 de janeiro de 2011
continuação do Capítulo III - O filho da mamãe
Almir estava sendo usado como "mula" do tráfego de drogas no território de Alemão, um marginal que a custa de muito sangue em assaltos a camioneiros na região do porto, tinha se tornado uma espécie de dono do lugar. Seu território era sagrado, quem não aceitasse suas regras tinha que se mudar. Mas, se fosse um de seus homens, a única saída era a morte ou a cadeia. Uma vez trabalhando para ele não tinha mais volta.
Sandoval e Joca avisaram o amigo, mas parecia que Almir adorava uma encrenca e um dinheirinho fácil. Era só fazer umas entregas, ajeitar uns clientes ali, outros aqui...
Quando Marcos soube já era tarde. Não tinha mais volta para o amigo, estava encrencado.
__O que posso dizer? Melhor nos afastarmos dele. Batista interveio.
__Tá maluco? Não esqueça que agora ele é um protegido do Alemão. Nada disso. Vamos fingir que não é conosco. Apenas tomamos precauções.
__Como assim?
__Nada de favores ou assuntos relacionados a isso. Quanto menos nos metermos nisso melhor.
__Mas não tá certo...Ele é nosso amigo.
__Quanto quer apostar que ele vai tentar nos ferrar ainda? Acorda! Almir nunca concordou comigo em vários assuntos.
__Ainda acho que devíamos ajudá-lo.
__Como? Tem alguma idéia? Vai agir contra o Alemão?
Marcos estava certo. Não tinham o que fazer.
O pacote
__Eu nunca te pedi nada.
__Isso não. Eu te avisei que não daria cobertura a esse tipo de coisa.
__É só por uns dias...
__De quem é essa droga?
__Eu ganhei por serviços prestados...
__Conta outra. Se não se abrir não entro nessa.
__Tudo bem. Eu to tentando expandir os negócios. Vou ganhar muita grana. Mas ainda não tenho um local adequado para guardar o material.
__Como conseguiu isso? Com que dinheiro?
__Se não pode ajudar, tudo bem. Não precisa mais.
__Espera.
__Cara! Na hora de planejar os roubos eu presto. Na hora que preciso você me deixa na mão.
__Por quanto tempo?
__Uma semana no máximo.
__Uma semana. Depois eu jogo o pó no vaso sanitário lá de casa.
__Ficou louco? Quer morrer? Não sabe do que eles são capazes.
__Sei sim e é por isso que quero ficar de fora. Não diga a ninguém que estou te ajudando.
__Fica susse. Não falo.
Marcos achava que tinha se metido numa furada. Mas não podia se recusar a ajudar o amigo, afinal eram cúmplices e viviam brigando, o que não era bom para os negócios.
__Bela hora para crise de consciência. Sabe que pode ter assinado sua sentença de morte? Ajudar Almir é furada, sabe disso.
__Eu sei...To arrependido, mas agora é tarde. Depois, é só por uma semana.
__Sei. Vamos ver o quanto significa "uma semana" nesse caso.
Ele estava certo. A partir daquele dia, sempre surgiria um pacote novo para Marcos guardar. Almir insistia para que o amigo entrasse no esquema, embora ele se esquivasse.
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