segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

9 - Capítulo IV - Joca e Sandoval, o "Maria vai com as outras".

Joca, filho de um casal humilde, João, Pedreiro e Ana, auxiliar de serviços numa escola municipal, era pobre e  ambicioso,  ingênuo, parecia que se recusava a  crescer. 
 Sandoval era filho de professora do primário, Luzia, e seu pai, Jair, era dono de supermercado. Eram separados, mas continuavam amigos, ligados pelo filho, que era único e muito mimado. Sandoval paceria imitar o amigo em todas as situações. Não tinha opinião própria, o chamavam de Joca II, o que o irritava muito.
Foi na época que Batista estava na Itália que as coisas ficaram pretas entre os comparsas.
__Se eu fosse você não falava essas coisas do Marcos. Sabe como ele é esquentado! Se escuta...
__Estou me fudendo com MC! É a pura verdade! Pergunte a ele...
__Que maluquice a sua! Sandoval estava nervoso, muito surpreso com a afirmação de Almir.
__Eu acredito. Sempre achei estranho essa preferência do MC. Ele conhece todos, mas sempre deixou claro que era fiel ao Batista. Foi ele que nos apresentou a ele, lembra? Joca entrou na conversa.
__Não estou dizendo...MC e Batista são"diferentes".
__Parem com isso vocês dois. É de nosso amigo MC que estamos falando. Nosso companheiro de farras, putarias e tudo mais. Ele não conseguiria fingir tão bem.
__Se não acreditam perguntem a ele. Outro dia ele próprio assumiu que gostava do Batista de um modo "diferente".
__O que eu soube é que ele fumou um baseado contigo e fizeram muita zueira por aí. Ele estava com a erva na cabeça e você aproveitou para implicar com a amizade dos dois. Como sempre faz, digamos de passagem...
__Tudo bem, não quer acreditar é problema seu. Mas quando ele sair do ármário e assumir a "namoradinha", lembrem-se que cantei a bola primeiro ok?
__Seu bosta! Odeio essa mania que você tem de falar mal dos brothers pelas costas. Joca estava muito irritado com o amigo.
__Bosta é você, seu merdinha. Não me faça dizer o que penso de sua relação com esse "cloninho"de merda que anda sempre ao seu lado. Apontou para Sandoval, que partiu para cima do amigo e acertou-o com um direto de esquerda no seu olho. Aliás, era sua especialidade, a esquerda de ferro, como chamavam no bairro. Sandoval adorava treinar box no ginásio da comunidade e todos apreciavam seu talento para o ringue.
Joca tratou de apartar os amigos, mas era tarde, Almir já estava com sangue na boca. Agora ia ser difícil conter sua fúria de vingança. Iam ter que apelar para MC, era o único que, bem ou mal, o amigo escutava.
Passado alguns dias souberam por Almir do retorno de Batista ao Brasil.
__Eu não disse? Ele se enrolou todo com Alemão para trazer a namoradinha de volta. Eu gostaria de saber em que encrenca a "moça" se meteu lá no estrangeiro para fazer MC negociar com o bandidão do pedaço.
__Ele entrou para o tráfico? Jonas estava preocupado com o futuro do amigo. Por mais esquentado que fosse ele gostava muito do rapaz.
__Pior...Ele emprestou uma quantia muito grande para trazê-lo de volta. Alemão demora, mas sempre cobra. Pior que não é bem dinheiro que  vai cobrar dele. Conhecem o ditado? Vende a alma ao demônio, um dia ele vem buscar. É assim que Alemão age. Ele se julga o próprio chifrudo.
__Eu espero que você esteja exagerando, como sempre faz.
__Vai esperando...Ah! Cadê aquele  traíra do seu amiguinho? O medo de mim é tão grande que o fez desgrudar de ti hoje?
__Deixa o Sandoval em paz. Eu já disse que ele se arrependeu do soco que te deu.
__Sei...Mas tudo bem, tenho coisa mais importante para pensar. O que é dele tá guardado.
Almir tinha intermediado o acordo de MC e Alemão e por isso, sem tempo,  não decidira ainda o que fazer com o amigo.
Batista finalmente chegara ao Brasil!
Procuraram Almir e já se preparavam para o encontro final. Tinham decidido acabar com os roubos, mas, aceitaram a condição de Almir: Iam fazer um último , bem maior, numa joalheria e assim, com o futuro garantido, poderiam aposentar as armas. Mal sabiam que nesse ramo o último ganho nunca é suficiente, sempre se quer mais.
Também não imaginavam que esse seria o roubo que os levaria ao banco dos réus...

__Vamos aproveitar esse último encontro para esclarecer uns pontos com essa corja...
__Por que não me conta o que aconteceu enquanto estive fora?
__Bom...É algo meio esquisito.
__Anda. Todos estão cheios de insinuações.
__Bom, andaram espalhando que somos namoradinhos.
__Isso eu sei, mas de onde tiraram isso?
__Almir e sua boca suja. Alemão relutou em me arranjar a grana. Aí ele disse que se ele pensasse sermos gays tudo ficaria mais fácil...
__Continue...
__Alemão é um gay, todos sabem.
__Sim, eu ouvi a respeito. Ninguém tem coragem de falar sobre isso, mas dizem que arrebanha meninos e possui uma espécie de "harém" em seu apartamento.
__É verdade. Aí Almir disse que se ele pensasse que éramos namorados e que você estava em perigo...Enfim, uma história romântica de dois homosexuais.
__Minha nossa! Mas você...Tão machão! Aceitou?
__Para  ver como te considero!
__Nem sei o que dizer...
__Esquece. Não foi difícil...Quer dizer, você é como um irmão para mim.
__Valeu!
Batista ficou mudo. Em certas horas era melhor assim. Mas daquele dia em diante algo tinha se instalado em sua mente. Passou a admirar mais o amigo, era realmente fiel.



Próximo capítulo - Dia 14 de fevereiro de 2011
continuação do Capítulo IV - Arquitetando o último golpe.

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