segunda-feira, 25 de abril de 2011

20 - Ciúme na Dose Certa

Entrou na recepção e por um momento pensou em desistir. Imaginou a cena: "um homem bem vestido, perfumado, abraçando Batista, afinal eram antigos namorados." A raiva veio a tona. Não ia admitir que um estrangeiro intrometido atrapalhasse sua amizade. 
Já no elevador,  pensou que não era certo perder a oportunidade de ser feliz, tinha que jogar tudo para o alto e assumir seus sentimentos. Mas como sair de mãos dadas com alguém do mesmo sexo? Trocar carinhos, olhares, até beijos roubados,  como os namorados costumam fazer tantas vezes?  Ele não conseguiria! Ia ser uma grande batalha assumir para si mesmo e sua família, quanto mais em público. Por um momento parou e se sentiu perdido. Não conseguia nem pensar em assumir o cara? Então como atrapalhar sua única chance de ser feliz? Esse italiano podia ter o defeito que fosse, mas assumia sem culpa sua relação homosexual.
__Que merda! Foda-se tudo! Vou arrebentar a cara dele! Bateu com força na porta do quarto e como ninguém atendesse, arrombou. Foram três tentativas que o deixaram com o pé doendo. Por pouco não teve uma torção. Assim que a porta foi arrombada dois funcionários apareceram pela escada.
__Chamem a polícia!
__No. A policía no! Io pago el estrago. Um homem de sotaque italiano apareceu, provavelmente era o babaca que se abalou da Itália para roubar sua chance de ser feliz.
__Não preciso da sua grana. Guarde para pagar o hospital...
Batista surgiu e entrou na frente do amigo, sendo atingido por um murro certeiro que o deixou no chão. Não viu mais nada. Acordou com o cheiro forte de alcool e Marcos fora de controle. Seu olho estava ardendo.
__Eu quero todos fora daqui agora. O gerente do hotel apareceu e estava indignado. __Quero que vão resolver seus problemas longe do meu hotel.  Fabrício o convenceu a não dar queixa. Combinaram  tudo, a conta da porta arrombada sairia nas despesas do italiano, que já esperava por Marcos instantes antes dele arrombar a porta do seu quarto. Claro, não esperava uma reação tão passional!  Batista havia aberto seu coração para o rapaz. Contou que era apaixonado pelo amigo e que estava prestes a desistir, pois não acreditava que Marcos o assumisse um dia, mesmo dando mostras de que estava apaixonado.
__Dopo questa declaração di amori eu espero que não parle mais em desistir. Ele falava com Batista enquanto entravam no carro para irem até uma farmácia fazer um curativo no olho.
__Mas ele foi embora. Deve estar furioso, se sentindo humilhado.
__Dopo comporta come um homo da caverna? Lui  è  envergonhado, si. Vai te cercare quando si senti melhor.
__E se ele não me procurar mais?
__Deixa di esseri pessimista. So lo conheço a alma umana. Ele está dividido. Ele é um machão daqueles que a gente acha que não muda jamais. Não do  lo um mês para cambia você e dar una banana  al público.
__Não acredito nisso. Mas confesso que não gostaria de perder a sua amizade. Eu não suporto a idéia.
__Facciamo logo ou esse olho vai ficar da dimensioni de una caixa de, como se diz no Brazil, vespa.
Marcos estava sentado no banco da pracinha. Não sabia como ia encarar o amigo a partir de agora.  Aquele italiano idiota ainda saiu por cima. Tinha impedido de chamarem a polícia, assumido a conta do arrombamento  e ainda por cima, levado Batista para os primeiros socorros no olho, que, para completar, estava muito machucado por conta daquele murro trocado. Era azar demais! Não tinha chance alguma. Era melhor se preparar para o pior. Logo Batista anunciaria sua viagem para a Itália novamente. Certamente iria viver com seu modelo de homem perfeito. 
__Que merda! Estraguei tudo. Preciso fazer algo para não perder a amizade de Batista. Pelo menos sua amizade ele tinha que salvar. Não suportaria perder o contato novamente.


Na casa de Batista...


__De novo com essa conversa? Dr. Mauro estava irritado com a mulher. Dona Helena andava insinuando algumas considerações a respeito da sexualidade do filho. Há muito tempo desconfiava, seu filho era sensivel e dava mostras de que alguma coisa estava mudada em seu comportamento nessa área. 
__Acho melhor você parar de gritar e me ouvir.
__Quer que eu fique calmo enquanto me diz que meu filho é gay?
__Eu não disse isso...
__Insinuou. Dá no mesmo.
__Primeiro, é nosso filho. E eu não insinuei, apenas disse que percebi alguns indícios de que ele tem algo que esconde da gente nesse campo.
__Batista sempre foi mulherengo. Sempre arranjando mulheres para fazer suas farrinhas com os amigos. Pensa que arranjava dinheiro com quem? Comigo que sou seu pai, é claro.
__Eu sei disso. Já andei preocupada com isso, lembra-se? Eu não acho nada saudável esse vício de pagar prostitutas todas as vezes que quer sexo. Prefiro que ele namore e tenha uma vida sexual com as namoradas, hoje em dia isso é normal.
__Ora, homem é asim mesmo. Mas se sabe disso, por que essa conversa agora?
__Uma mãe não se engana. Algo nele mudou desde que voltou da Itália. Nunca mais soube de nenhuma mulher em sua vida, nem as prostitutas.
__Ora, ele amadureceu. É isso.
__Não. Você pode continuar cego se quiser. Eu sei do que estou falando. Pena que todas as vezes que toco no assunto com ele se esquiva. Não confia em mim, eu poderia ajudá-lo.
__Você está louca! Precisa se tratar! E se isso fosse verdade eu preferiria vê-lo morto.
__Cala a boca! Não diga besteira!
__Falo sério! Eu não criei filho para virar afrescalhado. E não deixaria você ajudá-lo. Ele que se virasse sozinho.
__Pois escute uma coisa: Se isso que penso for verdade, e  no fundo sei que é, sinto...Se eu souber que meu filho é homosexual, ele pode contar comigo para o que precisar. Continuará sendo meu filho. E tem mais, se você tentar atrapalhar minha relação com ele nosso casamento acaba aqui.
__Ficou louca?
__Está avisado. Não me faça escolher entre um e outro, eu fico com ele sempre. Acho bom você ir procurando um terapeuta. 
__Vou conversar com ele hoje e tirar isso a limpo.
__Nada disso. Deixe-me falar com ele antes. Depois vocês conversam. Era sempre  assim, Helena sondava o terreno antes,  quando o assunto era delicado.


__Tem certeza Mauro?  Não está imaginando coisas? Dr. Luiz dividia o escritório com ele e era sempre um fiel confidente em seus problemas familiares.
__Não sei de nada. Helena é que me veio com essa hoje...
__Não queria estar na sua pele. As mães sempre pegam as coisas no ar. Se já te falou a respeito é porque tem certeza, está preparando o seu espírito.
__Ah, que ótimo! Me deixou bem mais tranquilo agora! Respondeu com sarcasmo.
__Desculpe, só acho que Helena está certa. Se existe o problema você terá que enfrentar.
__Não estou louco então? Também acha que isso é um problema?
__Nossa! Nem me fale! Fosse comigo eu estaria arrasado!  Mas pode contar comigo. Já pensou em arranjar uma namorada para ele? Do mesmo modo que gostava antes, pode voltar a se interessar agora.
__Não tinha pensado nisso.
__Eu vejo sempre a recepcionista dando em cima dele. Só se a gente bancasse o cupido...
__Anita? É bem bonitinha...Mas nesse caso não seria melhor um tratamento de choque?
__Como assim?
__Uma bela garota de programa. Uma daquelas que o deixasse prostrado depois de uma longa noite de sexo...
__Conhece alguma?
__Sim. Mas por favor, guarde segredo. Não quero  sua esposa a par disso, Helena ia ficar sabendo na certa.
__Pode ficar tranquilo. Essas coisas eu não comento com ela, sabe como é, coisas de homens. Riram enquanto procuravam um telefone na agenda. Batista iria a um encontro inesquecível. 




Enquanto isso na pracinha...




__Podemos parlare agora? Fabrício estava de pé olhando para Marcos que, concentrado, não o tinha visto chegar.
__Não temos nada a falar...
_ Come nol? Mi arrebenta quasi, golpea Batista, derruba alla porta ... E 'qualche pazzo? É doido?
__Não me provoque italiano...Nem entendo direito o que diz. Marcos olhou-o com ódio.
__Querendo ou no vamo parlare de homo a homo.  Dopo me acerta o olho se preferir. Certo?
Sentou-se ao seu lado e Marcos pode sentir o aroma amadeirado de seu perfume. Batista devia adorar esse cheiro. 
__Fale logo e depois prepare-se. Vou terminar o que comecei lá no hotel. Pode ter certeza...






Próximo capítulo - Dia 25 de abril de 2011
continuação do Capítulo IX - Amor ou Amizade?

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