segunda-feira, 4 de abril de 2011

17 - Capítulo VIII - Vencendo os preconceitos íntimos



_Você não disse que "fazia e acontecia"? Estou esperando!
__Batista exagerou. Eu não ameacei...
__Ah! Agora quer me convencer de que meu brother é mentiroso...
__Foi mal...Eu estou desesperado, preciso fugir e não tenho grana.
__E Alemão?  Por que não pede para ele?
__Ele quer me matar. Queima de arquivo, você sabe como é...
__Por que? Você não era o braço direito dele?
__Intriga. Ele acredita que eu o roubei. Pura inveja de uns caras aí que querem me ver pelas costas.
__Não me enrole. Eu te conheço. Deve ter tirado uma grana preta dele.
__Não vou negar. Mas não é grana. Eu andei desviando um pouco de mercadoria. Uma espécie de comissão por negócios prestados. Queria começar meu negócio autônomo.
__Desviou droga? Você é maluco!
__Olha aqui meu, eu sei que você agora é dos nossos. Alemão me contou o que aprontou na cadeia. Na boa! Não quero problemas. Quando ameacei seu amiguinho foi desespero. Mas tudo bem. Se não pode me ajudar vou indo.
__Espera...Com medo? Não estou te reconhecendo!
__Na boa cara! Vai me ajudar ou não?
__Não. Não esqueci que quase me ferrei por tua causa. Aquela droga que escondi em casa. Foi por pouco que não apodreci na cadeia.
__Ora. Não tenho culpa se escondeu mal o pó.
__Vou te dar um aviso: Some! Desapareça! Não quero ver sua cara nunca mais. Também não quero ficar sabendo que andou cercando o Batista.
__Não se preocupe. Não vou mais importunar teu namoradinho.
Marcos não se abalou com o veneno. Dessa vez até gostou de ouvir.
__Acho bom! E não esqueça: NUNCA MAIS!

Almir saiu apressado. Ia tentar cruzar a fronteira. Sabia de um homem que podia ajudá-lo. Bastava negociar, afinal ele tinha alguns pacotes de cocaina guardado. Daria para pagar sua passagem e ainda sobraria algum.

Enquanto isso Batista, que ouvira toda a conversa, decidiu matar sua curiosidade:
__Preciso saber. Eu ouvi tudo. Por que não acertou a cara dele quando me chamou de sua namoradinha?
__Isso importa?
__Antigamente você não admitia nem ouvir piadinhas dessa espécie que já partia para a ignorância. O que mudou?
__Devo ter ficado mais frio com a experiência do presídio.
__Não sei não.
__Acha que é o que?
__Sei lá...
__Não seja idiota. Melhor nos apressarmos. Esqueceu da entrevista de emprego?
__Não. Claro. Meu pai te espera. Ainda está em tempo de desistir.
__Por que eu faria isso?
__Sei lá...Ainda é difícil acreditar que você se interesse por Direito.
__Eu não disse que quero fazer Direito. Eu disse que gostaria de trabalhar num escritório de Direito para conhecer melhor o assunto. Afinal meu melhor amigo  está nesse caminho. Quem sabe não descubro que gosto também?
__Esse seu comportamento me deixa intrigado. As vezes acho que voltou do presídio com um parafuso a menos.
__Ou a mais...Marcos deu uma gargalhada. Batista cada vez mais se surpreendia com o amigo.


Enquanto isso...

__Por que não procura sua namoradinha? Jair era um comparsa de Almir que nunca concordara com Alemão. Para ele os lucros do tráfico deveriam ser distribuidos de maneira democrática, afinal todos corriam riscos. Alemão enriquecia a olhos vistos e dava apenas uma mínima parte aos seus colaboradores. O pior é que ameaçava todos que tentassem se rebelar. A rotina era sempre a mesma, queima de arquivo. Pelo menos dez pessoas eram assassinadas por  mês.
__Tem certeza de que ela está em São Paulo?
__Pode acreditar! Eu fui um dos que ajudou na mudança. A moça estava quieta, mas a mãe falava feito uma matraca. Disse que tinham parentes por lá e na situação da filha iam precisar de toda ajuda possível.
__Situação? Que situação? Ela tirou o bebe.
__Olha, eu fosse você investigava isso direito. Não acretito que tivesse intenção de tirar. A mãe da garota estava toda empolgada com a vinda do netinho.
__Não. Não acredito que aprontasse isso comigo. Eu dei a grana, lógico que tirou. Mas agradeço, vou investigar essa história.
__Não precisa agradecer. Eu só acho que todo pai tem direito de saber que tem um filho.
__Aquela piranha não ia me enganar. Eu vou procurá-la em São Paulo antes de sair do país.
Dez meses se passaram desde o dia que deu a grana para que fizesse o aborto. Caso a encontrasse com o bebe não ia deixar barato. Ou devolvia o dinheiro ou ele levaria a criança. Preferia entregar para que sua família  criasse a deixar e ter problemas com a lei no futuro. Sabia de casos em que o pai era preso por não ter condições de pagar a pensão a seus filhos.
__Cara, você está sendo procurado. Não é melhor resolver isso uma outra hora? Uma criança agora só ia te atrasar. 
Quero que tome conta do nosso negócio enquanto eu estiver fora. Depois dou um jeito de me comunicar com você. Vamos continuar com o esquema. Alemão não pode nem desconfiar que você está me ajudando. Se tudo der certo em menos de dois meses apagamos ele e eu assumo o negócio todo.
__Pode ir tranquilo. Eu tomo conta de tudo. Mas não vá se enrolar por conta da criança. Pense com cabeça fria.
__Pode deixar. Almir estava decidido. Ia resolver isso ou não dormiria mais em paz. Nunca quis ser pai e não ia ser agora a bancar o idiota. -Aquela cadela não é louca de ter mentido para mim...


Próximo Capítulo - Dia 11 de abril de 2011
continuação do Capítulo VIII - Acertando as contas com a mãe do meu filho!

Um comentário:

  1. fiquei um tempo sem acompanhar, mas já estou de volta retomando a leitura.
    capitulo de hoje muito bom. diálogos rápidos e rasteiros.tipo de escrita e abordagem social há muito abandonado pelos escritores mas que você resgata esse estilo e sabe fazer muito bem.

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