segunda-feira, 9 de maio de 2011

22 - Dinheiro tudo compra...

__Deixa  ver se entendi direito, meu pai acha que sou gay e pediu para que a minha mãe investigue?
__Não é bem assim...
__Caralho!  Marcos! Desembuche!
__Sua mãe está preocupada contigo. Ela quer ter essa conversa, mas não sabe como começar...
__De onde ela tirou que posso ser gay?
__De alguma forma você deu bandeira. Ela até conversou sobre isso com seu pai...
__Merda!
__Pois é...Nem era para que eu te contar. Mas, brother, como não te prevenir de uma coisa dessas?
__Caramba! Meu pai deve estar maluco!
__Ele pirou mesmo. Parece que sua mãe o convenceu a esperar pela tal conversa que ela vai ter contigo.
__O que eu faço?
__Acho que chegou a hora de assumir isso...
__Acha fácil?
__Não! Claro que não! Eu sei que é muito complicado. Mas não tem escolha...
__Complicado? Não conhece meu pai! Não pode nem imaginar o que me espera!
__Posso sim, mas não é o que te espera, mas sim o que espera nós dois. Estamos juntos nessa!
__É um amigão, sei disso. Mas o problema é meu.
__Não é não. É nosso.
__Não pode pagar pelas minhas escolhas.
__Não entendeu. É minha escolha também. Estamos juntos nisso...
__O que quer dizer com isso?
__Que eu também terei que assumir perante todos...
Dona Helena entrou bem na hora que ele ia abrir seu coração. Batista ainda ficou alguns instantes olhando o amigo com cara de quem levou um baita susto.
__Podemos conversar?
__Mãe, pode ser daqui a pouco?
__Não. Converse com sua mãe primeiro. Eu espero.
__Não. Preciso que termine o que ia dizendo...
__Eu espero lá fora...A mulher percebeu que o assunto deles era importante e decidiu sair dali.
__Não. Dona Helena, fique. Eu estou lá fora. Depois conversamos.
Batista estava  assustado. Uma coisa era ser apaixonado pelo amigo, outra era saber que era correspondido. Não podia ser verdade, devia ser engano. Marcos devia estar dando total apoio como amigo e ele entendeu errado. De qualquer forma era muito bom saber que podia contar com ele nesse momento tão delicado.
__Mãe...
__Marcos já disse sobre o que quero falar contigo, não disse?
__Sim.
__E então?
__Espero que um dia possa me perdoar.
__Pelo que?
__Eu demorei para perceber, mas depois que vivi lá na Itália não deu mais...Não vou mais esconder, não da senhora.
__Então eu estava certa?
__Eu sou homosexual. Vivi com um cara lá na Itália por um bom tempo. Percebi que toda a causa da minha insatisfação aqui no Brasil era essa, eu não poder assumir meus sentimentos mais íntimos. Eu jamais teria descoberto isso aqui, perto do pai. Mas não me arrependo de nada. Foram os melhores momentos de toda a minha vida. Posso dizer que agora sou feliz. Não vai dizer nada?
__Dizer o que? Está feliz? Então também estou. Pode contar comigo para o que vai enfrentar.
A mulher abraçou o rapaz com carinho. Sabia que não ia ser nada fácil.
__Eu preciso que me apoie numa decisão muito importante que vou tomar hoje.
__Falar com seu pai?
__Isso eu resolvo sozinho. Sei que não será fácil. Por isso tenho que tomar essa decisão.
__Seja o que for conte comigo.
__Quero alugar um apartamento perto do centro da cidade.
__Vai sair de casa novamente?
__Não da forma que pensa, mãe. Quero sair na boa. Dessa vez quero apenas montar a minha casa. Acho que chegou a hora. Queria que me ajudasse.
__Sabe que pode contar com meu apoio...
__Não quero dinheiro. Quero que interceda com seus contatos. Preciso de um aluguel barato. Sei que não será fácil aqui no centro, mas talvez a senhora consiga.
__Eu posso ajudar a pagar.
__Não. Quero arcar com tudo. Vou dividir com Marcos. Quero que ele venha morar comigo. Vai precisar de uma casa para abrigar o irmão enquanto faz tratamento. Com certeza isso vai ser de boa ajuda, já que ele vai gastar com fisioterapia.
__Seu pai vai pagar tudo.
__Será que vai? Depois que souber da verdade, será que vai continuar arcando com as despesas dos meus amigos?
__Seu pai pode ser irracional para certos assuntos, mas noutros é íntegro. Se disse que pagaria, certamente vai pagar até o fim.
__Tomara!
__Filho...Preciso perguntar uma coisa. Você e Marcos...
__Não. Somos amigos do peito. Marcos foi quem me ajudou quando mais precisei.
__Eu sei. Você também o ajudou muito. Eu saberia entender se fosse outra coisa...
__Mãe. Não coloque problemas onde não tem. Marcos é só um amigo e pronto. Batista temia que seu pai se vingasse nele quando soubesse dos sentimentos que nutria pelo amigo.
__Se tivesse alguma coisa você me diria, não é mesmo?
__Sim mãe. Se existisse alguma relação entre eu e Marcos eu diria. Já me abri, não teria motivos para mentir. Não existe nada entre eu e Marcos, só amizade.
__Mas você gosta dele mais que...
__Pare com isso! Acha que por que eu me abri com a senhora tem o direito de perguntar sobre meus sentimentos mais íntimos?
__Não. Perdão. Eu me preocupo, é só isso.
__Mesmo que eu gostasse dele da forma que sugeriu, ele é hetero, esqueceu? Isso não era uma mentira. Se Marcos tinha algum sentimento  homosexual por ele não tinha dito ainda. Então não precisava contar nada.
__Tudo bem, eu acredito. Mas se um dia precisar desabafar sobre algum homem, saiba que serei uma boa ouvinte. Para mim o importante é vê-lo feliz.
Batista não segurou a emoção. Ouvir a mãe dizer isso era tudo que sempre sonhou.
__Eu amo a senhora.
__Eu também te amo meu filho. Agora deixe-me ir. Sabe o que me espera, não sabe?
__Eu vou empacotar minhas coisas ainda hoje. Pode dizer ao pai que conversamos a noite. Mas a mudança é fato já  decidido, não importa o resultado da conversa.
__Tudo bem. Vou ligar para o Almeida. Ele deve ter algum apartamento para alugar.
Almeida era dono de uma imobiliária e já tinha usado os serviços do escritório algumas vezes. "Uma mão lava a outra", argumentou a mulher.Tire o resto do dia de folga para arrumar as coisas.
__Obrigada mãe. Você não existe!
__Igual a mim existem milhares por aí. "Mãe", é isso que eu sou.

__Eu não te disse? Sua mãe é gente boa, acabou tudo bem.
__Sim. Tenho sorte em ter uma mãe especial assim.
__Não sei se a minha terá a mesma compaixão.
__Não é compaixão, é amor. E por que a sua mãe vai precisar ter? Eu não sou filho dela...
__Eu sei. Mas deixa para lá.
__Não. Termine o que ia dizer, ora.
__Ainda não. Olha, se para você que já viveu um relacionamento homosexual na Itália já é difícil, imagina eu, um machista incorrigível!
__Quer dizer...
__Eu tenho que assumir o que sinto por ti brother, há muito tempo eu sinto. Mas não é fácil. Só de dizer isso assim, cara a cara, já estou quase vomitando. Acho que terei que fazer uma lavagem cerebral.
__Cara! Não sei o que dizer...
__Não é para dizer nada porra! Eu preciso de um tempo. Talvez nunca consiga assumir isso. Mas eu preciso. Moraremos juntos, mas como amigos. Topas me ajudar nessa parada?
__Sabe que sim.
__Então tá feito. Mas olha só, nada de agradinhos, mãos dadas e essas coisas. Eu preciso de tempo para tudo. Não quer dizer que não queira, o que quero dizer é que...Não consigo dizer, saca?
__Tudo bem. Eu já estou bem feliz. Moramos juntos como irmãos.
__Venha me dar um abraço então. Se abraçaram longamente. Batista sabia que tudo ia se resolver rapidamente. Não dá para morar junto da pessoa que se gosta e ficar tudo na amizade. Já sabia disso. Com o tempo Marcos perceberia também. Era muito bom ser amado!
__Sabe de uma coisa? Meu pai pode me dar uma surra agora! Nada vai me deixar para baixo.
__Que surra? Tá doido? Vamos juntos falar com seu pai.
__Não. Eu preciso resolver isso sozinho. Mas fico feliz que tenha se oferecido.
__Nada de surras então, se ele ficar violento você sai de fininho ok?
__Vou tentar. Pode apostar que sim.
Cairam na risada. Tinham um longo trabalho pela frente com Miguel e a fisoterapia. Seria uma forma de ocupar a cabeça quando as coisas ficassem complicadas. Morar junto como casal não era fácil, imagine como amigos querendo ser casal, seria uma tortura.
Ia ser divertido e assustador ao mesmo tempo.


Próximo Capítulo - 16 de maio de 2011
Capítulo XI - A hora é agora!

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