segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

4 - A casa caiu...



Marcos havia comprado um novo computador, um novo vídeo game, uma bicicleta para o irmão caçula e fazia planos para comprar uma moto, o que muito desagradava a mãe.
__Espera  um pouco mais...Se juntar dinheiro acaba comprando um carro, moto é muito perigosa.
__Deixa de besteira mãe. Eu já sou bem grandinho para saber me cuidar. E depois, se tudo der certo, compro um carro sim, mas no momento quero a moto. Até já escolhi uma numa loja aqui perto.
Dona Maria sabia que seria um problema,   ficaria acordada horas  imaginando o filho acidentado, sempre que atrasasse para voltar para casa. “Ele não podia ser uma cara normal? Desses que conhece uma garota, casa e forma família...” Porque as mães têm que passar por isso?
Marcos era um cara inteligente, achava que sabia como acalmar a mãe. Comprou a moto e na semana seguinte levou-a até a loja da esquina para que escolhesse uma máquina de lavar.
__Como pode pensar em comprar uma máquina tão cara se acaba de se endividar com a moto?
__Que droga mãe! Uma vez na vida você não pode simplesmente ficar feliz e agradecer? Tem que desconfiar de tudo?
__Eu sei que está tentando me agradar, mas não  quero ver meu filho enrolado,  sem ter como pagar as contas. Não preciso de máquina, vamos embora. E não me chame de “você”, eu te ensinei a me respeitar, diga “senhora”.
__Mãe... Pensei que fossemos amigos, por isso a tratei por você.
__Amigos? Claro que somos amigos. Apesar de não me contar nada sobre seu trabalho,  me considero sua amiga...
__Isso de novo? Merda!
__Olha a boca moleque...
__Não vou ficar aqui ouvindo sua ladainha... Fui! Saiu em sentido contrário ao de sua casa e a deixou ali com seus pensamentos.  Dona Maria estava com um mau pressentimento.


__Sai agora, é minha vez... Miguel estava ao lado de Jovilson no computador.
__Deixa de ser fominha. Estou no MSN...
__E eu com isso? Combinamos que ficaríamos uma hora cada um.
__Espera eu me despedir...
__Cinco minutos, nem um segundo a mais.
Dona Maria entrou e nem se importou com a discussão, foi direto para o quarto.
__Que deu nela?
__Não sei... Mas imagino quem a deixou assim. Jovilson sabia dos boatos que corriam sobre seu irmão e sua turma e esperava que a mãe caísse na real. Várias vezes tentaram falar sobre isso, mas a mulher nem escutava, cortava logo o assunto.
__Mãe! Aconteceu alguma coisa?
__Não. Ainda não.
__Está preocupada com Marcos, não é?
__Pressentimento de mãe. Não se preocupe, logo passa.
__Mãe... Seja o que for é bom que aconteça logo.
__Não diga besteira. É coisa de mãe. Pura fantasia.
Jovilson não insistiu. Sabia a hora de parar. Abraçou a mulher e disse:
__Um dia vai se orgulhar de mim. Vou dar tudo que a senhora merece.
__Escute... Não preciso de nada que o dinheiro possa comprar. Quero apenas que seja uma boa pessoa. E feliz...Isso me fará realizada. Só isso.


Enquanto isso...

__MC, meu camarada...Quantas vezes eu disse para não mudar as coisas em casa de uma vez? Claro que  Dona Maria vai desconfiar. Compre aos poucos, como se tivesse pagando em prestações. Batista reclamou.
__De que adianta todo nosso trabalho se não posso ter luxo na minha própria casa?
__As mães são assim mesmo. Ou isso, ou saia de casa...
__Não dá brother, não dá... Tem os manos. Eu quero poder encaminhar os dois. Eles são muito certinhos, só vão se dar bem na vida com minha ajuda.
__Esquece seus irmãos. Eles não concordam com seu modo de vida, já ficou claro para mim, para ti não?
__Mas na hora de aproveitar as coisas boas que proporciono aos dois bem que gostam. Nem lembram do que faço quando estão na frente do computador.
__Deixa eles. Sai de casa. Vai por mim. Será melhor para todo mundo. Uma hora dessas os brigadianos resolvem pôr pressão e imagina aonde vão primeiro? Na sua casa guri! Vão amolar sua mãe. Por isso que sai da minha casa. Tem que separar as coisas.
__Cada um pensa de uma forma. É só a gente fazer bem feito que não incomodam ninguém. Não vou sair de casa. E tem mais, ainda vou reformar aquilo tudo lá. As goteiras estão com os dias contados.
__Tu que sabe guri. A família é tua. Mas ande, vai te arrumar que está quase na hora. Eles tinham contratado duas chinas e iam fazer uma farrinha.
__Só uma coisa brother. Vê se não dá presentes às gurias hoje. Lembre de onde são. Presentes a gente gasta com minas de respeito. Não seja idiota...
__Tu vai se meter na minha vida agora? Batista estava com o rosto vermelho de raiva.
__Fica assim então: Tu não se mete mais na minha e eu não dou palpite na sua,  certo? Marcos falou debochado.
__ Vá se foder...
__Daqui a pouco vamos os dois. Gargalhou o rapaz.
Passaram a noite na esbórnia. As moças eram da pesada. Os dois levaram uma surra.
Gostavam de sexo, mas era a primeira vez que faziam a quatro. O fato de poder ver enquanto transavam dava um gosto diferente, uma espécie de poder. Marcos até exagerara um pouco e machucara uma delas.
__Eu não concordo com isso cara! Não é porque são putas que tem que ser assim. Batista estava chateado.
__Ora, veja, nem reclamou. Depois eu dobro o dinheiro e saem satisfeitas.
__Nada disso. Sem violência ou to fora!
__Ok, ok..É uma moça mesmo!
Estava  amanhecendo quando ouviram as sirenes.
__Sujou! Dêem o fora daqui.
__E a nossa grana?
__Toma... Marcos jogou um masso de dinheiro na mesa.
__Esses pilas? Não foi o combinado.
__Pegue esse. Batista deu um pacote generoso à mulher que saiu sorridente.
__Andem. E não dêem na vista, Vão pelo beco. Batista estava preocupado com o barulho não muito longe dali.
__Caralho!  MC é na sua casa! Eu avisei...
__Boca maldita! Vamos cair fora daqui.
__E sua mãe?
__Ora, não estão atrás dela estão? Vamos logo, temos que ir até o esconderijo, lá estaremos seguros. Tinha uma casa abandonada onde se encontravam para planejar os assaltos e também onde escondiam a mercadoria roubada. O acesso era pelo túnel do esgoto, um lugar de difícil acesso.


A busca...

__Larguem meu filho! Ele não é bandido!
__Calma Dona Maria. É só não resistir que tudo se ajeita.
__Ele não fez nada... O policial algemara Jovilson enquanto a mãe chorava abraçada ao caçula.
__Mãe, fica tranqüila. Eu não tenho nada a ver com isso, logo me soltam.
Dona Maria tinha ouvido falar dos maus tratos dados às pessoas presas naquelas circunstâncias e não podia deixar que o levassem.
__Seu policial, qual a acusação?
__Encontramos esse pacote no quarto do rapaz. Sabe algo sobre isso? Não é preciso dizer o que é, reconhece senhora? Era cocaína. O que mais temia tinha acontecido. Marcos tinha conseguido arruinar sua família.
__Onde achou isso? Mostre-me,  por favor. O policial conduziu a mulher até o armário do quarto dos rapazes. Realmente, era o guarda-roupa de Jovilson. Mas Dona Maria sabia que era do irmão, Jovilson era inocente demais para isso.
__Não é dele. Isso não é dele, solte meu filho.
__De quem é, Dona Maria? Vamos, fale logo.
__Tenho um filho mais velho, Marcos, de 18 anos. É dele.
__Mãe... Jovilson interveio.
__Onde está seu filho?
__Por aí, pela rua...Sei lá. É ele que vocês procuram.
__Muito bem. Vamos todos para a delegacia. Lá esclarecemos tudo.
__Tudo bem. Mas tire as algemas dele. É só um guri.
__Guri? O policial deu uma risada. É por isso que o mundo está do jeito que está. É um homem Dona Maria, um homem!
__Não é um bandido!
__Vamos logo antes que eu perca a paciência...
Foram todos para a delegacia.
Seis horas depois foram liberados. Marcos agora era procurado, um foragido da justiça.


__Mãe! A senhora está bem?
__Não se preocupe. O importante é que o delegado liberou você. Não sabe como ia ser doloroso se te prendesse. Acho que não agüentaria.
__Mas sabe que é isso que vai acontecer com o Marcos, não sabe?
__Vamos dormir, o remédio que me deram está fazendo efeito... Jovilson e Miguel tinham conseguido uma cartela de Rivotril com a vizinha. Tinham medo da reação da mãe por tudo que passara e pelo que ainda ia acontecer.
Quando amanheceu veio à notícia: Marcos estava preso. Dona Maria sabia que começaria o pior calvário de sua vida.



Próximo Capítulo: Dia  10 de janeiro de 2011
Capítulo II – Batista, o Garoto de Programa.

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