segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

3 - Capítulo I – Marcos e o Assalto

A MUDANÇA
 
__Mãe! Onde está meu vídeo game? Marcos gritou.
__Deixa disso. Ainda temos um monte de caixas para abrir.  Jovilson interferiu.
__Eu não... Na hora de mudar de cidade ela não me deu ouvidos. Agora nem peça minha ajuda!Merda! Não estou encontrando o maldito vídeo game... Mãe!
__Você não tem coração. Acha que nossa mãe também não sofre com a mudança?
__Lá vem você com essa papagaiada de novo. Pode parar! Ela  casou,não foi? Teve filhos... Agora tem suas obrigações. Mas eu sou solteiro, não tenho que me sacrificar. Se um dia eu tiver minha família, aí sim, é outra história!
__Seu covarde, insensível... É da nossa mãe que estamos falando. Se magoar nossa mãe eu te mato!
__Ai, ai... Que medo! Gargalhou. Seu bostinha, nem sabe limpar a bunda direito e acha que pode me ameaçar. Empurrou o menino em direção à porta, bem no instante que Dona Maria entrou.
__O que está acontecendo aqui? Ela sabia que brigavam.
__Nada, era só brincadeira... Marcos olhou o irmão, esperando que concordasse.
__Não foi nada mãe. Jovilson decidiu deixar pra lá.
__Mas e o meu vídeo game? Não o encontrei.
Marcos tinha 16 anos e não aceitava a separação dos pais, tampouco a mudança para Porto Alegre.
Dona Maria fazia trabalhos de faxina para manter a casa e na capital as chances de conseguir trabalho eram maiores.
Tinha vendido muitas coisas para cobrir as despesas com a mudança e isso incluía o computador e o vídeo game.
__Eu vendi o vídeo game para ajudar nas despesas.
__Droga! Computador, vídeo game... O que faço para passar o tempo nesse lugar?
__Que tal ajudar a arrumar tudo?
O rapaz deu de ombros e saiu para fora.
__Onde pensa que vai? Não conhece ninguém...
__E se ficar enfurnado aqui é que não vou conhecer nunca!
__Deixa ele mãe. Ele sabe se cuidar. Jovilson acalmava a mãe.
__Aqui nessa cidade tem muita violência. Não vão poder ficar na rua como ficavam em Roque Gonzales.
__Fica fria. Ele sabe disso.
__Não sei o que seria de mim sem você meu filho. Ela abraçou o menino com carinho.
__E eu não conto? Era Miguel enciumado. Tinha 13 anos e acabara de entrar no quarto.
__Você é o meu preferido! Venha cá! Dona Maria abraçou o menino e mentalmente agradeceu a Deus por ter os dois.
__Mãe. Eu posso tentar arranjar trabalho...   A mulher fechou a cara.
__De jeito nenhum. Eu já disse e repito: Quer me ajudar? Estude! Um dia, quando eu estiver bem velhinha, você arranja um emprego e me sustenta. Mas um emprego bom! Para isso acontecer tem que estudar.
__E Marcos? Por que não o faz trabalhar...
__Seu irmão não escuta ninguém. Para mim se voltasse a estudar seria o ideal.
__Ele faz o que quer...
__Ele está revoltado pela mudança. Mas, se Deus quiser, logo cai em si e volta a ser o menino bom que sempre foi.
__Sei... Jovilson ia dizer algo, mas calou-se ao ver o olhar de reprovação do irmão.
__Vamos meninos! Ajudem-me a arrumar tudo antes que anoiteça. Ainda estamos sem luz.
Saiu e os meninos retornaram à pilha de caixas.





DOIS ANOS DEPOIS





__MC, tem certeza que quer fazer isso? É sua mãe cara! Joca  perguntou . MC era Marcos. Era chamado assim pela  turma, a mesma do capítulo anterior, os “Sobreviventes de  um Grenal”. Cada um tinha sido batizado com um apelido.    
__Justamente. É a minha mãe, não a sua. Por isso não dê palpites ou arrebento a sua cara!
__Parem com isso! Interveio Almir.__Se começarem a brigar eu desisto do nosso acordo. Palhaçada! JC, MC está certo. Isso não é da sua conta!
O rapaz deu de ombros e saiu porta fora.
Tinham negócios escusos, isso todos no bairro sabiam, mas “o que” ninguém arriscava o palpite. Só em casa Marcos era visto como o filho bom e responsável. Tinha arranjado um emprego, estudava noite e embora a mãe não acompanhasse seu rendimento escolar, tinha certeza de estar progredindo. Isso porque se tornara um rapaz mais calmo, sempre que podia ajudava nas despesas. Uma conduta invejável. Isso tudo aos olhos da mãe, é claro.
Em casa todos esperavam ansiosamente pelo rapaz.
__Que demora! Jovilson tinha crescido e com 16 anos já exibia o esboço de um bigode. Tinha se tornado um belo rapaz. Olhos azuis, pele clara, cabelos encaracolados, bem diferente dos outros irmãos que tinham a pele jambo e o cabelo ruim, herança do pai.
__Calma meninos. Logo seu irmão chega e todos vão se divertir com o novo computador. A porta abriu e Marcos entrou com a caixa.
Terminaram de montar na hora do jantar e Dona Maria ficou admirando o objeto.
__Deve ter custado os olhos da cara. Tem certeza que vai conseguir pagar?
__Não se preocupe com isso. Eu já disse que com o que estou ganhando dá e sobra.
__Onde é o seu trabalho? Fala tão pouco dele...
__Agora não mãe. Vamos aproveitar o bichinho. Outro dia conversamos sobre meu trabalho.
Claro. Que boba ela era. Em vez de ficar orgulhosa ficava amolando o rapaz com perguntas.
__Marcos! Telefone!
__Agora? Merda! Bem na hora que eu ia criar meu novo Orkut... Quem é?
__AM. Miguel disse e correu tomar o lugar do irmão. Sabia que Marcos ia sair. Era sempre assim, Almir ligava e ele saia correndo.
__Vamos marcar o tempo. Uma hora cada um, está bem? Jovilson queria muito navegar.
__Tudo bem. Mas agora saia, preciso de privacidade.
__Olha lá hein...A mãe não vai gostar que acesse porcaria.
__Quem disse que é porcaria? Saia...

Jovilson saiu e aproveitou para jantar. Com a novidade tinha esquecido de comer.




Próximo Capítulo - Dia 03 de janeiro de 2011
continuação do Capítulo I - A Casa Caiu...

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